2007/07/27

Timor (3) : Jaco - Há mar e mar, há ir e voltar

Jaco
Jaco é um ilhéu localizado na ponta mais oriental de Timor Lorosae, a sua posição e forma, lembram uma espécie de ponto final, como se fosse “Timor ponto final”. Na opinião de alguns, incluindo uma ou outra revista especializada em viagens, Jaco tem a melhor praia do mundo. Não sei se é a melhor, porque afinal o quê que é isso de ser a melhor, mas é seguramente uma das mais bonitas.


O mar
A ideia de ir mergulhar a Jaco nasceu de uma conversa ocasional com o Mark do Dive Timor Lorosae. O sorriso e os gestos largos deste simpático australiano acentuaram a ideia base da conversa, Jaco é o melhor sítio do sudeste asiático para mergulhar. O estreito, entre a praia de Tutuala e o ilhéu de Jaco, foi apresentado como o paraíso dos mergulhadores. Não foi preciso mais nada, (logo, logo) os mergulhadores da nossa casa (o Mário, a Alice, a Sofia e eu próprio) estavam convencidos.


O ir
Antes de decidirmos mergulhar, averiguamos sobre a hipótese de mergulharmos com um dos clubes de mergulho existentes em Dili, o Dive Timor Lorosae e o Free Flow. Impossível, os seiscentos quilómetros (ida e volta) tornam este mergulho desinteressante para os clubes. Assim sendo, optamos por mergulhar por conta e risco. Recolhemos informações sobre as condições dos mergulhos a fazer, locais, correntes, forma de alugar barco, material a levar, os riscos, enfim, tudo como dizem os livros.


Como quase sempre tem acontecido, a “família” da casa 2 do bairro uniu-se em torno do projecto de mais um fim de semana, e para além dos mergulhadores, foram também para Jaco, o Pedro e o Rui. Depois de participar na caminhada do Matebian, a Carla, decidiu juntar-se novamente ao grupo e com ela veio o Luís (por sinal, mais um a mergulhador). Como mergulhador atraí mergulhador, o Nuno Bento também se juntou ao grupo e trouxe o Pedro. Para completar, o António que originalmente só iria aproveitar uma boleia para Tutuala, acabou por passar o fim de semana todo connosco. Em resumo, onze pessoas, três jipes cheios de material de mergulho e “esnorkeling” (como diz um amigo das Pampas) e muita boa disposição.
Na primeira noite, sexta-feira, dormimos na Pousada Roberto Carlos em Lospalos, que é cara, tem uns horríveis lençóis sintéticos e é gerida por um sujeito (Roberto Carlos que dá o nome à pousada) prepotente e muito pouco simpático.
No sábado de manhã concluímos a viagem até Tutuala, sendo que a parte final é a mais complicada devido ao estado das estradas. Que diga-se em abono da verdade estão a ser agora melhoradas.

Já na praia, sem dificuldade contratamos um barco de pescadores e fomos para o mar. As condições não eram as melhores, havia ondulação e a visibilidade não parecia a melhor. Depois de conversamos sobre as correntes com os pescadores, o local escolhido para mergulhar foi a praia norte de Jaco, pois a outra alternativa, um parede em Tutuala, não tinha condições devido às correntes muito fortes. De acordo com o planeado, mergulhou primeiro um grupo de duas pessoas, o Luís e o Nuno, enquanto os outros ficavam no barco. Isto porque tanto o Wayne do Free Flow como o Mark do Dive Timor nos alertaram para não confiarmos nos pescadores (!!!).
O mergulho foi razoavelmente curto devido às correntes fortes e por essa razão, os outros três elementos (Mário, Sofia e eu), decidimos não mergulhar nesse dia.

Ao almoço, uma fantástica barracuda grelhada, ao jantar, um ainda mais delicioso e enorme peixe coco grelhado. Durante a tarde uns relaxaram na praia e alguns outros foram visitar as pinturas (supostas) rupestres que existem na zona de Tutuala.

À noite, após o jantar, a conversa à volta da fogueira e dormida na praia, com a melodia do mar por companhia, enfim, tivemos mais uma noite explêndida, o que acontece frequentemente por estas bandas.

Domingo, dia D, saímos cedo para os mergulhos. O mar parecia mais calmo e como tivemos a companhia do Pedro e do António que iam a assegurar a vigilância a partir do barco, decidimos mergulhar os cinco em simultâneo. Local, novamente na praia norte de Jaco. Começamos o mergulho e as correntes fortes puxaram-nos rapidamente para os estreito. Quando decidimos interromper o mergulho já estávamos quase na ponta sul do estreito. Com os tanques ainda meio cheios, decidimos um segundo mergulho junto à praia, a baixa profundidade, nas palavras do Luís, um snorkeling melhorado. O mergulho começou bastante bem, apesar da visibilidade fraca. No entanto, com o decorrer do mergulho, a corrente foi aumentando e quando retornamos à superfície, tínhamos em torno de nós, ondas de um dimensão significativa que nos empurravam para a praia, enquanto que a corrente nos puxava para a costa este de Jaco (em sentido contrário).

Os barcos não se aproximavam de nós, após algum tempo a nadarmos (sem resultados) para nos aproximarmos dos barcos, estes foram embora (!!) . O grupo mostrava alguma apreensão e devido às ondas separou-se em dois, Sofia e Nuno foram mais para Oeste, enquanto que o Mário, o Luís e eu ficamos mais a Leste. Quando verificamos que os barcos não reapareciam, decidimos nadar para a praia, contra a corrente mas aproveitando a ondulação. Para meu grande alívio, a Sofia juntou-se novamente ao meu grupo nesta fase. Esta manobra foi demorada, talvez meia hora, e na parte final foi um pouco complicada pois necessitamos de passar a zona de rebentação carregados com o material todo.

O voltar
Quando finalmente nos encontramos todos na praia, entre um enorme cansaço, houve sorrisos e palavras de satisfação que traduziam bem o alívio que todos (em diferentes graus) sentíamos. Passados uns minutos, encontramos o António e o Pedro, que se aproximaram num misto de alvoroço e alegria por nos verem. Segundo eles, os pescadores recusaram-se a ir buscar-nos naquele local porque seria perigoso para os barcos. Enfim, creio que ainda precisarei de muitos anos para compreender/aprender esta forma diversa de ver o mundo e a vida.

Na viagem de volta, jantamos em Baucau, no já nosso conhecido restaurante Amália, que serve bem e rápido. À saída de Baucau, numa zona da estrada particularmente sinuosa, deparamo-nos com um acidente na estrada. Uma microlete capotada e uma mota, ambos no fundo de uma ribanceira de três metros. Largas dezenas (ou centenas?) de pessoas deambulavam pelo local. Como no nosso jipe havia alguns socorristas, paramos para ajudar. Tínhamos lanternas que permitiram iluminar o local e como se de um cenário de exame se tratasse (ainda fresco na minha memória), havia uma vítima com uma fractura do fémur exposta, uma grávida e ainda uma outra inanimada. Quando cheguei junto à vítima inanimada, ouvi as pessoas dizerem “está morto”, o meu coração saltou. Verifiquei que tinha pulsação e respirava. Tentamos dentro do possível ajudar, evitando que as vitimas fossem transportadas em braços (!!) o que causou alguns mal-entendidos (note-se que regra geral os timorenses são muito calmos mas quando exaltados...), pois alguns timorenses entenderam que não queríamos que as vítimas fossem transportadas para o hospital. Quando finalmente foram todos transportados para o hospital de Baucau, regressamos a Dili, exaustos.
Este fim de semana foi muito rico de experiências e lições apreendidas. Claro que as opiniões podem ser muito diversas mas tenho para mim, que valeu mesmo a pena. A minha irmã (que saudades) costuma dizer que o carvão e os diamantes são feitos da mesma matéria mas distinguem-se pela pressão a que são formados. Passe a imagem fraquinha, as amizades são como os diamantes.
Por último, uma palavra de agradecimento para Alice que mostrou que os valores como solidariedade e a verdade não são incompatíveis. Isto apesar
de não ter podido mergulhar connosco devido a uma indesejada/inesperada constipação.



8 comentários:

Anónimo disse...

Gente de Timor,

Quando se fala em Jaco, a saudade dos tempos do sol nascente queima ainda mais.
Ao Blogger Jorge, um abraço grande; aos não conhecidos(as), mil beijos e abraços por estarmos juntos, tão longe.
José Escaleira

Anónimo disse...

Malay bulak,

muitas saudades! Não só do local, da praia, do peixe grelhado e dos mergulhos (em Portugal, evito entrar na água para não congelar), mas também de ti, da Sofia e, claro, do meu paizinho. Ainda bem que saíram todos sãos e salvos e voltaram para contar. Mas, por favor, não nos assustem mais!

Bom fim de estadia e boas férias!
Rita

Anónimo disse...

Que inveja amigo...:)
Lindo, saudades, são os meus sentimentos.

Ainda bem q correu tudo pelo melhor, continua a relembrar as nossas mentes com essas aventuras :)

Beijos e Abraços amigos para o Jorge, Sofia e os outras demais companheiros

Pedro Carvalho

Anónimo disse...

Jaco... ponto final onde muita "vida" nasce.
Excelente relato de um fim de semana que imagino irreal.

Beijos e Abraços
André

Anónimo disse...

Achei lindo
Obrigada
Beijos de brisa de mar

Maninha

Anónimo disse...

Interessante

Unknown disse...

olá!palavras para quê...
continuas o mesmo aventureiro,beijos para todos.

Anónimo disse...

Com um caneco... Grande aventura a vossa, mas dá para arrepiar a espinha...:/
Aproveito este comentário para apresentar uma amiga minha do surf... (além da bicla como sabes tou agora dedicado ao surf...;) que é a Patrícia Pais de Matosinhos e está aí em Díli há uma semana consulta o blog dela:
http://malaenopaisdosolnascente.blogspot.com/
Se a encontrares dá-lhe beijinhos meus e apresenta-lhe praias para ela continuar a praticar o surf...:)
Um abraço.